sábado, 27 de novembro de 2010

Rock: novo ou antigo?

O rock antigo ainda é referência para muitas bandas atuais. Mas o rock tocado hoje tem qualidade? A busca pelo lucro interfere na qualidade das composições? Com entrevista do ex-membro do Iron Maiden, Paul Di’Anno, além de Marcelo Gross e Beto Bruno, da banda Cachorro Grande, a Produtora de Notícias responde a estas questões. Veja a reportagem no link abaixo e deixe seu comentário lá!

Clique aqui para assistir.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Iniciação Científica como ferramenta de trabalho

Na era do conhecimento, a pesquisa acadêmica aparece como alternativa e abre novos caminhos no mercado profissional.

“Omnia mecum porto”: Tudo o que tenho (de valor), carrego comigo. A frase de Menos Bias (Bias de Priene), sábio grego da antiguidade, foi dita na iminência da invasão da cidade de Priene. Enquanto todos estavam em pânico, juntando seus pertences para fugir, ele permaneceu de mãos vazias. O que ele quis dizer é que já tinha consigo o mais essencial: o conhecimento. Frase antiga, pensamento contemporâneo. É sabido que a cultura do século XXI vai além do trabalho mecânico e o automatismo de outrora; ela considera o conhecimento e a capacidade de utilizá-lo frente às situações do cotidiano como sendo característica essencial para os meios acadêmico e, ainda, profissional. É preciso, mais do que realizar e mostrar resultados, refletir sobre a atividade desempenhada.

Neste sentido, atendendo aos anseios – e crescente necessidade – em buscar o conhecimento, uma alternativa está presente em grande parte das universidades brasileiras: a Iniciação Científica. Os projetos de pesquisa envolvendo os universitários são uma ótima alternativa para aplicar os conhecimentos adquiridos nas mais diversas áreas e, ainda, repassá-los para a sociedade. Segundo Mário Braga, bolsista de iniciação científica há dois anos e meio, “a pesquisa é interessante porque, além da contribuição para o currículo, você cria um olhar crítico no ambiente de trabalho. Você acaba agregando conhecimento e tem um diferencial em relação aos concorrentes”. Para a mestranda em “Comunicação e Sociedade” e editora de reportagem da TV Alterosa, Kelly Scoralick, “a pesquisa dá a oportunidade de parar e repensar a atividade profissional. Não podemos nos distanciar muito da sala de aula, porque senão podemos mudar nossos valores enquanto estudantes, por conta da correria do dia-a-dia. O mercado e a academia precisam andar juntos, ter o complemento um do outro”.

O bom profissional do século XXI deve compreender a sociedade em que vive, e a Iniciação Científica é um importante passo para que os alunos possam refletir o mundo ainda no período da faculdade, visualizando novos caminhos e ampliando seus horizontes. Maximiliano Henriques, gerente comercial da empresa de engenharia consultiva SNC-Lavalin Minerconsult, destaca que, ainda que desenvolvam pesquisas fora de sua área acadêmica, “esses alunos, na sua maioria, aprendem algo que levarão consigo pelo resto da vida profissional, como trabalhar em equipe e ter responsabilidades”. Ele ressalta ainda que “esse perfil reflexivo ajuda em muito no dia-a-dia de trabalho. Os melhores profissionais com os quais trabalhei até hoje quase sempre tiveram esse perfil e se destacaram também por isso. Ele ajuda a conviver, a entender e a respeitar os colegas de trabalho”. Henriques mostra também que uma das dificuldades do mercado profissional envolve o gerenciamento de pessoas, e que o profissional com um perfil acadêmico, reflexivo, se destaca na área empresarial. “Administrar as diferenças, vaidades e ambições acaba sendo a grande tarefa de um profissional, principalmente se o mesmo exerce uma função gerencial. Gerenciamento de pessoas é difícil, muito difícil! Então, se um profissional é tecnicamente bom na sua área, com boa experiência profissional e de vida, e ainda tem esse perfil reflexivo, tenho certeza de que ele terá mais condições de chegar a níveis elevados na sua carreira.”

Novas Oportunidades

O meio acadêmico oferece hoje, por meio de encontros, conferências e congressos, uma oportunidade ampla de disseminação dos trabalhos produzidos. Como todos eles oferecem certificados, servem também para rechear o currículo. Além disso, a participação nestes eventos pode significar também novas oportunidades como, por exemplo, estudar fora do país. Muitos programas de intercâmbio levam em consideração nos seus processos seletivos a apresentação de trabalhos de Iniciação Científica e participação em congressos. A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é uma delas. Segundo a secretária executiva da Coordenação de Relações Internacionais (CRI) da instituição, Josefa Ferreira, “o processo seletivo considera a Iniciação Científica devido à importância que a mesma tem no desenvolvimento acadêmico dos alunos que a fazem, pois oferece a eles uma oportunidade de participar de um projeto de pesquisa bem estruturado e com professores altamente qualificados”.

Além de aumentar os índices de sucesso e aproveitamento no mercado profissional, o aluno que optar pela Iniciação Cientifica tem, ainda, outra possibilidade de crescimento profissional: a vida acadêmica. Para Paulo Roberto Leal, professor e colaborador do Programa de Educação Tutorial (PET) da Faculdade de Comunicação, “cada vez mais as universidades precisam de gente com titulação acadêmica”. O aumento no número de novas universidades e faculdades nos últimos anos contribui para isso: segundo o Ministério da Educação, foram criadas 14 novas universidades federais nos últimos sete anos. Vale a pena correr atrás desse novo mercado e se dedicar a desenvolver alguns artigos relacionados a assuntos de interesse. “Quanto mais cedo melhor”, afirma Paulo.

*Artigo publicado na revista Ecaderno (www.ecaderno.com)

domingo, 20 de junho de 2010

Travesseiros ou Vuvuzelas?

Acordei. Reclamei mentalmente durante alguns minutos por ter que levantar precocemente. Naquele momento o pensamento mais sensato em minha mente era pular da ponte mais próxima, para ver se, enfim, poderia ter algum momento de paz e descansar durante mais algum tempo. De início, uma eternidade já bastaria. Passar 90% do tempo no trabalho até que é fácil; o grande problema é ser obrigado conviver com algumas dúzias de vuvuzelas no restante do tempo. Na minha infância elas já existiam, mas não me lembrava do seu natural e mágico potencial infernizador. Vai ver é um problema sintático-morfológico, já que eu as nomeava simplesmente como aquelas cornetas grandes. Ou então vai ver a grande questão era eu pertencer à infância: inserido no meio, talvez não pudesse percebê-lo claramente. Um dia ainda pergunto para minha mãe se eu fazia parte da tribo dos vuvuzeleiros enlouquecidos ou coisa do tipo, como parece existir hoje. Fica pra outra hora. Afinal, as cornetas grandes já ganharam bastante atenção da mídia brasileira.

A questão é que essa facilidade pós-moderna de intercambiar a cultura e peregrinar por tantas ideologias me assusta. Bebemos Coca-cola enquanto lemos um bom livro de Marx; logo depois, passamos no Mc Donald's e tomamos um sundae enquanto xingamos o capitalismo selvagem e o governo, para depois abrirmos uma revista Veja e balançarmos a cabeça num ritmo incontido, indicando uma concordância natural. Tudo lindo e ideologicamente incorreto, de acordo com o mais recente Código de Posturas Sociais Médio-Classista. Simples assim. Ah, não se assuste. Não vou ficar jogando por aí meu posicionamento ideológico. Essa crônica não se presta tanto para isso. A ideia inicial era falar de japoneses. Falemos, portanto.

Com o mau-humor típico das quintas-feiras me acomodei no ponto de ônibus. Comecei a observar ao meu redor, e lá estavam os japoneses. Um dos meus passatempos preferidos é observar as outras culturas: hábitos, comportamentos peculiares, tudo me encanta. Apesar de nunca ter saído do sudeste brasileiro, sei reconhecer um gringo à distância. Nesse caso foi mais fácil, e nem precisei de alguma habilidade específica. Os focos de minha atenção, além dos olhos puxados, falavam japonês e carregavam um grosso dicionário da língua portuguesa. Uma garota me chamou a atenção: ela carregava uma bolsa com o emblema da Hyundai. Comecei a pensar naquela questão do Marx, em capitalismo, exploração do trabalho e todas as derivações teóricas possíveis. Depois de alguns minutos de devaneio, voltei à realidade. Espantei-me quando percebi que a japonesa da Hyundai me olhava, sorrindo. Abandonei completamente a discussão teórica que tomava conta da minha mente e comecei a pensar no que aquilo significava. Será que sorrir, no Japão, significaria um “flerte”? O que ela estava querendo dizer com aquele olhar? Por fim, deixei minha presunção de lado e comecei a achar que me empolguei demais com minha argumentação interna. Vai ver eu estava falando sozinho e não pude ouvir direito, por conta do barulho das vuvuzelas. O ônibus chegou e eu fui embora, ainda sem entender nada da cultura oriental. Paciência...

É, o intercâmbio cultural me surpreende. Só que, da próxima, em vez de vuvuzelas, alguns travesseiros poderiam ter virado a sensação da Copa do Mundo. Eu não pensaria em pular da ponte, e a insônia dos brasileiros teria um novo e forte inimigo. Ah, e certamente eu conseguiria ouvir melhor os meus pensamentos. De tabela, eu decifraria os pensamentos uma oriental. Quem diz que Copa do Mundo é só felicidade ainda não conhece a frustração de não conseguir interpretar um sorriso.

sábado, 15 de maio de 2010

Oportunamente.

"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu".
(Caio Fernando Abreu)


Frase oportuna para a data. Coisas da vida. Oportunidades, momentos, decepções e, infelizmente, apenas lembranças... :}

Um beijo para a Anna. Li a frase no blog dela.

sábado, 1 de maio de 2010

Transporte público encoraja nova Geração-saúde

A educação brasileira envergonha. Não é novidade que o Brasil enfrenta desde sempre a negligência dos setores públicos nos assuntos referentes à educação, e nem mesmo dez editoriais retratariam fielmente a situação atual. O acesso à educação básica acaba se tornando raridade para a maior parte da população, e o ensino superior acaba sendo visto como uma utopia.

Juiz de Fora é uma exceção a tantas outros lugares, e conta com uma das instituições federais de ensino mais importantes do país: a UFJF. A educação chegou até aqui, mas a cidade ainda não consegue chegar, de fato, à educação. A realidade do transporte urbano é dramática, e os estudantes não veem nada além de portas fechadas quando tentam entrar nos ônibus superlotados. A reestruturação do ensino na UFJF abriu as portas a centenas de pessoas, mas na cidade as empresas de ônibus não andam no mesmo compasso. O que já era ruim ficou ainda mais assustador.

A Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) disponibilizará, a partir do dia 03, mais dez horários para a linha 525, que atende à Universidade. Se esta é ou não a solução para a superlotação dos ônibus, só saberemos daqui a alguns dias. Resta saber se as empresas responsáveis não estão apenas tentando mascarar suas falhas administrativas até então, jogando no lixo sua responsabilidade social e a credibilidade, já abaladas pelos escândalos envolvendo o ex-prefeito Alberto Bejani. Caso a situação persista, talvez seja preciso formar uma nova geração saúde: treinar estudantes-atletas, para que o transporte público seja, a partir daí, um item dispensável. Bom para saúde, ruim para a educação e péssimo para o capitalismo irresponsável.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Crise ideológica versus Jornalismo

Não é exagero dizer que vivemos num mundo em crise ideológica. Ao menos um mundo em que a ideologia está, em grande medida, sufocada pela massificação midiática e pela superficialidade das atitudes e ações. Priorizamos o banal e o passageiro, e nos esquecemos do nosso próprio passado de lutas e conquistas; nos esquecemos de parar e refletir sobre tantas meias verdades. Somos induzidos a largar os livros e conversar sobre tantos brothers país afora. Somos educados a deseducar.

Com tantas necessidades e posturas a serem modificadas mundo afora, é quase uma utopia esperarmos atitudes que levem em conta o bem comum. Em meio a tantos interesses torpes, o jornalista é um profissional que rema contra a maré: trabalha em uma empresa privada, buscando defender os interesses públicos. Na grande maioria das vezes isso não ocorre, seja por falta de interesse do comunicador ou pela falta de liberdade dentro das empresas. O jornalismo de hoje pode ser considerado como uma sombra daquele que buscava a mudança e a politização dos leitores. Jornalismo hoje é Indústria, com direito até mesmo à famosa divisão do trabalho. Apurar, transcrever, redigir, editar e diagramar são algumas das funções dos proletários da informação.

Vivemos numa época de censura velada. Por mais que os jornalistas se empenhem em produzir informação de qualidade e agir em consonância com a opinião pública, os interesses econômicos e individuais são os principais itens de uma linha editorial. Antigamente vivíamos numa época em que expor opiniões era atitude honrosa e patriótica. Era uma “transgressão” que valia a pena cometer, e o “proibido proibir” era um brado encorajador. Hoje é tudo uma questão de dar um “jeitinho jurídico”: uma ação aqui, uma censura acolá e tudo fica bem. Desta maneira, é quase impossível um profissional desta área não ser desacreditado de seus objetivos principais. Como no filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, o jornalista está produzindo notícias como um robô. Perdem os jornalistas, perde a sociedade, que é alimentada diariamente com notícias sem consistência.

Numa sociedade dita imagética, deveríamos ter vergonha de nos olharmos no espelho. O que refletimos não é nada além de uma mistura de futilidade e descrença, fruto do nosso descaso pela mudança. Para que os jornalistas não sejam totalmente incorporados a essa realidade e ajudem na mudança crítica da sociedade, muito ainda deve ser feito. As soluções vão muito além do bom senso, e exigem ética profissional, respeito próprio e, acima de tudo, ousadia. Jornalistas trabalham por meio das palavras, mas lutar apenas com letras e sem nenhuma atitude é uma batalha perdida pela ignorância.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Letalidade lavável

Sentou-se no ponto de ônibus e cruzou suas pernas sobre o banco, ajeitando a mochila entre suas coxas. Olhou para o relógio: o horário de seu ônibus há muito passara. Abaixou a cabeça e tampou seus olhos com o antebraço. À luz fraca dos postes já desgastados pelo tempo, tudo o que se via àquela hora era seu vulto encolhido, indefeso. Seus cabelos, que outrora já sustentaram um loiro e luminoso brilho, agora eram polidamente negros, como a mais bela das noites. A lua brilhava, mas não iluminava. Seu brilho não era tão diferente. Ela era apenas mais uma.

Sophia ficou ali sozinha durante longos minutos, ouvindo os ruídos da noite e pensando no dia anterior. Como um intruso, um clarão em sua mente a despertou. Junto dele, uma ideia. Com as costas das mãos, enxugou seus olhos, a essa altura já tomados pela fluidez de sua consciência. Fluidez de sabor salgado e insosso, que refletia não menos do que seu estado de espírito.

Abriu a mochila e pôs-se a escrever em um antigo bloquinho, guardado justamente para estas ocasiões especiais. “A inspiração aparece somente nas situações mais difíceis e insanas. Parece uma espécie de mórbido deleite. Irônico deleite da alma...”, pensou. Sua caligrafia ainda estava trêmula quando escreveu as primeiras palavras incertas e errantes. Parou e olhou para o lado, como se estivesse à mercê das próximas linhas a serem escritas. Sentiu medo. Olhou novamente à sua volta e, para seu espanto, não estava mais sozinha. Sentiu vergonha das palavras escritas, como se cada um daqueles olhares perdidos na noite se dirigissem exclusivamente a ela, despindo-a de toda a dignidade e respeito, conquistados ao longo de anos de árdua luta contra si mesma e seus impulsos mais ferozes.

Mesmo entre tantas pessoas se aglomerando na volta para casa, seu coração não reconhecia, naquele ambiente, qualquer porto seguro. Todas elas pareciam tubarões vorazes, prontos para um ataque dilacerante. Porém, nenhum ataque poderia ser mais feroz do que aquele feito por meio das palavras. Não aquelas ditas por ela. Desejou, por um momento, que algum desconhecido a poupasse de toda a dor e vergonha e corresse em direção a ela, dizendo todas as verdades que merecia, em alto som. Desejou a dor, nua e visceral. Quis a vingança. Em vão. Continuou ali, sentada com seu bloquinho na mão. Ele seria sua única ferramenta para ter tudo o que desejava. Ele seria sua única e mais letal arma.

A noite avançava, e Sophia continuava lá, meio sem jeito, encarando a folha de papel já completamente rabiscada. Sua arma letal, totalmente manchada pelas marcas da vida. Como um espelho de sua essência, aquele pedaço de papel exibia a verdadeira Sophia. Nele não havia maquiagem ou melhor ângulo; ele não engordava, não emagrecia, não exibia cor e, pior: sua letalitade era plenamente lavável e atóxica. Quando na água, poderia espalhar aos quatro cantos suas confissões mais secretas. “Letalidade reciclável. Memórias passageiras, que só deixam marcas na areia. Posteridade idealizada...”, resmungou Sophia, ao pensar na ideia.